Estádio da Luz 26 Novembro 1969. Benfica-Celtic, Taça dos Campeões: 3-0 em Glasgow, 3-0 em Lisboa. Na cabina do árbitro, o holandês Laurens Van Ravens pergunta cara ou coroa ao visitante McNeill. "Cara”. Sai cara a McNeill! Ainda o capitão do Celtic está a festejar quando Van Ravens lhe pergunta novamente cara ou coroa. “Agora foi para decidir se eras tu ou ele (Coluna) quem primeiro escolhia cara ou coroa. Como ganhaste podes voltar a escolher: cara ou coroa?” McNeill mantém cara. Sai cara novamente, o Celtic vai à final da Taça dos Campeões e o Benfica, em meia dúzia de segundos, perde duas vezes seguidas outra presença na final dos campeões só porque McNeill não escolheu coroa. Otto Glória era o treinador que não percebia nada daquilo e o campeão nacional foi a potência do Lumiar com mais 8 pontos que o Benfica! Com as vitórias a valerem 3 pontos e 1 os empates seriam 13 (em 26 jogos) a separar as duas equipas.
Eusébio tinha 28 anos, Simões 26, Toni 23, Artur Jorge 24, Nené, Vitor Martins e Humberto Coelho 20, José Torres 31, José Augusto 33, Mário Coluna 34...Não sei se lhe chamavam banana ou outro achincalho publico mas sei que o Presidente, Borges Coutinho, ainda aguentou 6 anos no cargo antes de deixar o Benfica campeão, eliminado pelo Dynamo Dresden na primeira eliminatória da Taça dos Campeões e pelos sapos (0-3) nos 'oitavos' da Taça de Portugal. No desempate por grandes penalidades o saldo do Benfica (a última vez foi frente ao Estoril nas 'meias' da taça da liga) é francamente desolador. É feita disto a história do Benfica. De glória, de grandes conquistas, de muitas alegrias mas também de enormes desilusões, derrotas dolorosas - até de moeda ao ar - infelicidades, tristezas...
Finais perdidas nos penaltis - como a da Liga Europa, do Felix Brych e da batota do Beto - ou a da Taça dos Campeões onde uma grande penalidade falhada por Veloso, após prolongamento, deu o titulo ao PSV, em nada diminuem o prestigio do Benfica! Golos sofridos aos 90+3 minutos, como frente ao Chelsea na final da Liga Europa, aquele remate de Lozano no estádio da Luz (1-1) que proporcionou ao Anderlecht a conquista da Taça UEFA ou insucessos como os do Eusébio, numa oportunidade que nunca falhava, mesmo em cima do apito final que levou a final de Wembley para o prolongamento (4-1 para o Manchester) até à Taça perdida frente ao Inter, em Itália, onde um golo de Jair, aos 42 minutos, decidiu (0-1) um jogo onde o Benfica jogou com apenas 10 jogadores desde os 57 mts, por lesão do guarda-redes Costa Pereira, por na altura não haver substituições, fazem parte da história do Benfica! 8 são as finais europeias perdidas. Este é o Benfica que eu conheço. Das grandes vitórias e das finais perdidas. Este é o Benfica que eu amo. Não conheço outro Benfica.
E muito menos o pertencente a uma pequena, cada vez mais encorpada e ensurdecedora, elite de cientistas que ganha sempre que o Benfica ganha mas nunca deixa de ganhar sempre que o Benfica perde! Uma casta privilegiada que conhece os segredos (que ninguém do Benfica aproveita) das vitórias. Estivesse nas suas mãos os destinos do Benfica, mudava aos 5 e acabava aos 10, que é como quem diz menos de 15 é uma derrota! Não há vergonha na cara. O Benfica, tal como o mundo, está transformado numa coisa estranha. Não há espaço para a tolerância e o bom senso desapareceu no meio do rebuliço. Se uns gritam: matem-nos, os outros berram: esfolem-nos.
Pelo que leio e ouço, Pinto da fruta está mais triste com a eliminação do Benfica que os verdadeiros intolerantes. Pelo que leio e vou ouvindo, a Europa do pontapé na chincha está repleta de treinadores incompetentes e de presidentes bananas. Desde o Barcelona ao Manchester City, do Inter ao Liverpool, treinadores como Jürgen Klopp e Pepe Guardiola e os respectivos presidentes não pescam um caracol de futebol. E como dos restantes apenas dois vencerão a Champions League e a Liga Europa...Quem não ganha é insultado e a alegria de uns tantos consegue ser indisfarçável. Eu avisei ao primeiro empate, recordam ufanos com os umbigos a rebentar de soberba!
Recuso-me a fazer parte da manada ululante que usa os fóruns à disposição para comentários perniciosos que vão da humilhação permanente ao escárnio onde o insulto ressabiado e gratuito tem lugar garantido. Há de tudo, desde os pensadores que sempre souberam que o homem não percebia nada disto desde que meteu os pés no aeroporto até aos tudólogos e achologistas das redes sociais que topam a incompetência dos treinadores do Benfica logo ao primeiro empate. Pior que não fazer as substituições que todos exigem são as mãos nos bolsos e aquela mania de não dar pinotes no banco de suplentes de Roger Schmidt que lhes dão cabo da marmita. Quem ama o futebol ama Benfica o quê? Vejo tudo menos amor. Vejo muita raiva mas sobretudo ódio, sim ódio, e uma inacreditável intolerância.